quinta-feira, 23 de março de 2017

Sobre a imprevisibilidade da vida, o outono, e as flores de cacto.



Reza a lenda que perdeu todas as moedas de ouro aquele que apostou com a vida, certo de saber qual seria o seu próximo passo. Ignorando, por completo, a imprevisibilidade e o compromisso que esta possui com o acaso.

A todo instante uma nova cena. Fecha os olhos, o tempo girou a roleta da vida. 
Não há mágica que o faça te devolver esta cena passada.

O relógio não para. Não pare também! Vive tudo, depressa!
Calma! Não tão depressa! 
É preciso tempo para digerir o tempo que tu devoras, e o que te devora, a todo o tempo.

É tempo de muitos verbos!

De procurar sentido para cada um deles, em meio ao caos de tanta ausência de sentidos. 
Nunca se procurou tanto por aquilo que não se acha.

É inicio do outono. A estação da queda das folhas. Por ausência de árvores, cai um tanto de outras coisas, lá fora e aqui dentro. A todo instante. Por vezes, a impressão é de estar imerso numa daquelas ficções científicas extremamente realistas e muito bem produzidas. Mas é só a vida seguindo o seu curso natural e vibrando em devolução tudo aquilo que lhe oferecemos. Afinal, é preciso que caia algo para nos ensinar que tudo foge ao controle. 

É preciso deixar ir. 

São os fins que anunciam os inícios. 

E é preciso deixar doer.

E por obra da imprevisibilidade, novamente, o cacto, vegetação espinhosa, grosseira, resiliente, digna de pena ao primeiro olhar, faz brotar uma flor muito sutil e delicada que vem se espremendo em meio aos espinhos e ali se acomoda. Encontra um lugar e nos ensina que há uma maneira, necessária, de estar, até mesmo por entre as secas e espinhos.

E para corroborar com a ideia, esta compreensão nasce na madrugada, em meio a insônia, iluminada apenas pelo desejo de estar...




Elisa

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