sábado, 4 de novembro de 2017

Um ano depois, há vida!





Exatamente um ano se passou desde o último 4 de novembro. Naquele dia em que dormi pouco na madrugada e acordei cedinho. Havia medo e entrega.
No caminho até o hospital eu pensava nas mais diversas coisas, mas também olhava muito atentamente a estrada, as pessoas, as casas, todas aquelas coisas que ficavam para trás enquanto o carro ia em frente.

Embora tudo só tenha retomado a concretude quando a enfermeira disse: "agora nós entramos e eles aguardam aqui fora. Pode se despedir da sua família." 
Eu ainda significava esse despedir-se quando a equipe de Dr. Arthur me colocou para dormir por mais de 7 horas. 

A próxima cena que existe em minha memória é a UTI. O frio. A sonolência. A barulheira dos aparelhos. O vazio. E um curativo volumoso na minha cabeça. 
Eu não sentia nada além de um ânsia enorme de ver um rosto conhecido. Um toque quentinho. Um sorriso em resposta ao meu. Só assim eu saberia que realmente voltei à vida. 
E a confirmação de que voltei para o lugar certo chegou no olhar dos meus pais e do meu irmão ao entrarem na UTI. 

Tive certeza que estava tudo bem.

Mais tarde alguns outros toques me faziam ainda mais certa de que estava tudo bem. E assim foi durante os dias que se seguiram. Os meses. Durante esse ano!

Durante esse ano a cicatriz na pele foi se fechando. As diversas outras cicatrizes permanecem nos seus processos de elaboração. O cabelo cresceu, já cortei novamente. Foram embora 10 quilos, recuperei 5, perdi 7. Fui para o hospital tantas outras vezes. O corpo oscilou, não mais que a alma. Houve dias de lágrimas. Sorri de doer a barriga. 
Diariamente 14 comprimidos me lembram que, as vezes, o corpo exige o cuidado que a alma não encontra. 
Precisei de colo e encontrei alguns corações dispostos a tecer uma rede de afetos me envolvendo nos dias mais difíceis e nos mais leves. Precisei calar para sentir e falar para elaborar o que foi sentido.

Amanheceu. 4 de novembro novamente. E cá estou eu, produto dos 24 novembros que já se passaram. 
De todos eles, este é o mais bonito. Um ano atrás quando eu entrava no centro cirúrgico achando que morreria, havia medo. Hoje, depois de algumas pequenas mortes internas, consigo compreender que só elas anunciam uma nova vida. 

Assim, "todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for para ficar". 
Algumas coisas morreram em mim neste ano. E se fizeram adubo para fertilizar o nascimento de tantas outras.

Um ano depois, na cabeça a cicatriz que a vida escolheu para mim, nas costas a cicatriz que eu escolhi ter na vida. 

Para não esquecer, que há vida! 

Elisa

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